Dólar em queda, Bolsa em alta no Brasil: O que a crise na Ucrânia tem a ver com isso? - Impacto Rondônia

Dólar em queda, Bolsa em alta no Brasil: O que a crise na Ucrânia tem a ver com isso?

Brasil atrai recursos de estrangeiros, e moeda americana vai ao menor nível em 5 meses

PORTO VELHO, RO
-  Diante do risco de um ataque da Rússia à Ucrânia e do aumento da procura por mercados com forte presença de commodities, o Brasil tem se tornado uma espécie de “porto seguro” para o investidor.
Desde o começo do ano, o dólar já caiu 6,39%. Na segunda-feira, a moeda americana fechou em baixa de 0,43%, a R$ 5,21, a menor cotação em cinco meses. A última vez que a divisa encerrou os negócios abaixo deste patamar foi em 6 de setembro último, a R$ 5,17.

Levantamento feito pela Economatica a pedido do GLOBO mostra que o real foi a moeda que mais se valorizou no ano frente ao dólar, considerando o desempenho de uma cesta de moedas de mercados emergentes e alguns desenvolvidos. O cálculo é baseado na taxa Ptax para venda, do Banco Central, usada como referência para operações em moeda estrangeira.

— Relativamente, o Brasil acabou quase se tornando um ‘porto seguro’, apesar de estarmos em um momento eleitoral e da elevação nas taxas de juros, com a economia mais fraca. Em função do cenário de instabilidade, de intervenção geopolítica, para o investidor estrangeiro o Brasil parece mais seguro — afirmou a gestora de renda variável da Macro Capital, Priscila Araújo.

Os dados de fluxo de capital estrangeiro na Bolsa confirmam essa percepção. Até o dia 10 de fevereiro, o resultado era positivo em R$ 42,289 bilhões, sendo que janeiro registrou a segunda maior entrada de recursos em dez anos.

Alguns fatores contribuem para esse “poder de atração”. No ano passado, o real teve forte desvalorização. O dólar encerrou o ano com alta de 7,47%. E há percepção mais favorável dos investidores em relação a commodities.

Segundo especialistas, em um momento de turbulência e de perspectiva de fortes oscilações adiante, os investidores se voltam para ações da “velha economia”, de empresas consolidadas, e as commodities ganham espaço nas carteiras dos fundos de investimento.

Como o Brasil é exportador de itens como minério de ferro e soja, a valorização destes produtos atrai mais dólares ao país, o que beneficia o real.

— A China, com a sinalização de estímulos para aquecer a economia, gera uma sinalização muito positiva para o crescimento global e para os preços das commodities.

O Brasil, porém, não é o único que poderia se beneficiar dessa conjuntura. Mas alguns fatores fizeram a balança pender a favor do país. No caso da China, por exemplo, pesam as intervenções do governo chinês no mercado. No ano passado, os regulares apertaram o cerco sobre empresas de tecnologia, publicando regras mais duras para atividades do setor.

O movimento prejudicou os papéis de gigantes como Tencent e Alibaba. No caso da Rússia, que também tem empresas fortes na área de petróleo e gás, o ambiente geopolítico conturbado, com risco de uma invasão da Ucrânia, afasta investidores.

Até ontem, o Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro, acumulava alta de 8,66%. Ontem, o índice encerrou os negócios com alta de 0,29%, aos 113.899 pontos.

Outro fator que joga a favor do mercado brasileiro é o diferencial de juros. O Banco Central (BC) iniciou a alta da Taxa Selic no ano passado, atualmente ela está em 10,75% ao ano. De acordo com o último Boletim Focus, do BC, o mercado espera que os juros básicos terminem o ano em 12,25%.

Lá fora, somente agora, após um período prolongado de estímulos à economia para mitigar os efeitos da pandemia, os bancos centrais começam a elevar taxas. Nos EUA, o Federal Reserve (Fed, o banco central) já indicou que em março os juros devem começar um ciclo de alta. A expectativa é que cheguem a 2,5% ao ano.

O diferencial entre taxas praticadas aqui e no mercado externo estimula empréstimo em países com juros mais baixos e aplicações de recursos em mercados como o nosso, que oferecem maior retorno. No jargão do mercado, a prática é chamada de carry trade.

— O diferencial de juros ainda vai continuar nos ajudando, porque a diferença ainda é muito grande. Está sendo um movimento bem claro de fluxo para emergentes com taxas de juros mais altas — afirmou o gestor de juros e moedas da RPS Capital, Joaquim Sampaio.

Riscos no horizonte

Mas a calmaria não tem garantia de continuidade. No front externo, um conflito entre Rússia e Ucrânia teria potencial para levar a uma corrida por proteção em ativos considerados mais seguros.

— Uma tensão global pode causar estresse geopolítico, que fortalece o dólar e os títulos americanos — disse Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.

Não é só. Uma correção de rumo nos juros nos EUA em ritmo diferente do previsto pelos investidores também poderia frear o apetite por emergentes. E os analistas fazem a ressalva de que os fatores de preocupação subjacentes no mercado brasileiro não saíram de cena.

Se a eleição parece ter ficado em segundo plano antes do início oficial da campanha, o risco fiscal continua no radar dos investidores, que acompanham o desenrolar de propostas no Congresso que ampliam os gastos públicos.

Por enquanto, o único fator dado como certo com o alívio no dólar neste começo de ano é que, mesmo que seja temporário, pode ajudar a frear a escalada de preços, com inflação em 12 meses acima de 10%.

Fonte: O Globo
Dólar em queda, Bolsa em alta no Brasil: O que a crise na Ucrânia tem a ver com isso? Dólar em queda, Bolsa em alta no Brasil: O que a crise na Ucrânia tem a ver com isso? Reviewed by DA REDAÇÃO on fevereiro 15, 2022 Rating: 5

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