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Japão usa "drones que latem" para conter ataques de ursos

Japão usa "drones que latem" para conter ataques de ursos

 

Pelo menos 13 pessoas foram mortas por ursos no país desde abril, o número mais alto desde o início dos registros em 2006

Jessie Yeung e Junko Ogura, da CNN
Uma placa de aviso em uma trilha de caminhada fechada em Hida, na província de Gifu, no Japão.
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Quando soldados japoneses chegaram à província setentrional de Akita na quinta-feira (6), eles se prepararam para enfrentar um novo tipo de ameaça – uma com orelhas peludas e até 100 quilos de massa.

A região montanhosa é conhecida por suas densas florestas, lagos e vales – e por ser um ponto crítico dos ataques fatais de ursos no Japão este ano.

"A situação já ultrapassou o que a província e os municípios podem lidar por conta própria, e o esgotamento no terreno está chegando ao limite", disse o governador de Akita, Kenta Suzuki, em uma publicação no Instagram no mês passado.

É um problema nacional, alimentado pela crise climática e mudanças no habitat. Em todo o Japão, pelo menos 13 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas desde abril deste ano, segundo dados do governo – os números mais altos desde o início dos registros em 2006.

Somente em outubro, compradores foram atacados em um supermercado, um turista espanhol foi arranhado por um filhote em um local histórico, e um corredor de trilha foi forçado a lutar com um urso na floresta antes de correr para se salvar. O problema se tornou tão grave que o governo britânico incluiu um alerta sobre ursos em suas recomendações de viagem para o Japão.

Em Akita, as autoridades locais solicitaram assistência militar formal das Forças de Autodefesa do Japão, afirmando que suas medidas existentes – incluindo armadilhas e sprays repelentes de ursos – não eram suficientes.

Mas as tropas não vão abater os ursos – isso não é permitido pela lei japonesa. Em vez disso, elas fornecerão apoio logístico, como a instalação de armadilhas e o transporte de carcaças abatidas por caçadores.

O abate propriamente dito é reservado para caçadores licenciados e associações locais de caça, alguns dos quais o fazem recreativamente ou como trabalho em tempo parcial. Mas esse grupo está diminuindo e envelhecendo rapidamente em meio à crise demográfica do Japão, conforme reportado pela Reuters no ano passado – gerando temores de que eles sozinhos não possam lidar com a dimensão do problema.

"Os governos locais e as associações de caça, que trabalham juntos como equipes de controle da vida selvagem, estão agora severamente exaustos", disse o Ministro da Defesa Shinjiro Koizumi em uma entrevista coletiva em outubro.

"Acredito ser natural considerar o que pode ser feito em resposta aos pedidos dos governadores locais", acrescentou.

A Agência Nacional de Polícia anunciou na quinta-feira (6) que a tropa de choque será autorizada a atirar nos animais em áreas residenciais das prefeituras de Akita e Iwate, quando caçadores não puderem responder a tempo.

As autoridades também estão considerando contramedidas mais tecnológicas, como câmeras de vigilância equipadas com IA e sistemas de alerta baseados em drones, disse Suzuki. De forma semelhante, na prefeitura central de Gifu, o governo está experimentando drones que reproduzem sons de latidos de cachorro e fogos de artifício, numa tentativa de espantar os ursos.

Enquanto isso, moradores e autoridades permanecem em alerta. Muito menos pessoas estão acampando, uma atividade popular no clima fresco do outono; em algumas cidades, funcionários estão distribuindo folhetos alertando pessoas que fazem piquenique para não deixarem comida exposta, informou a NHK.

Alguns moradores de Akita, temendo encontrar um urso a qualquer momento, passaram a chacoalhar ruidosamente as maçanetas de suas portas antes de sair de casa, disse o ministro da defesa, acrescentando: "Este é o nível de ansiedade em que os moradores estão vivendo todos os dias."

Mudanças climáticas e fronteiras indefinidas

Embora este ano marque um aumento recorde nos ataques, o número de incidentes entre ursos e humanos vem crescendo constantemente há vários anos.

Especialistas dizem que isso ocorre em parte porque os ursos estão cada vez mais se aventurando fora de seus habitats tradicionais e entrando em áreas urbanas em busca de comida. Alguns sugerem que isso acontece porque as mudanças climáticas estão interferindo na floração e polinização de algumas das fontes tradicionais de alimento dos animais.

O Ministério do Meio Ambiente atribuiu o aumento deste ano à baixa colheita de bolotas - que provocou uma série similar de ataques em 2023.

As mudanças climáticas também podem estar alterando seus padrões sazonais; invernos mais quentes podem levar a uma hibernação tardia, o que poderia aumentar os encontros com humanos, sugerem alguns estudos.

Outro fator pode ser a mudança demográfica do Japão, dizem os especialistas. Há anos, as gerações mais jovens têm migrado para as grandes cidades em busca de melhores oportunidades de trabalho, deixando uma população idosa cada vez menor nas vilas rurais. Isso significa mais terras agrícolas abandonadas, arbustos e árvores frutíferas sem manutenção, e menos pessoas nas fronteiras dessas cidades - tornando mais fácil para os ursos atravessarem para áreas habitadas.

Também há simplesmente mais ursos atualmente.

Os ursos foram tão caçados no Japão que sua população caiu drasticamente – mas proteções ambientais foram introduzidas na década de 1990, permitindo a recuperação da população desses animais.

De acordo com estimativas governamentais, o número de ursos-pardos, principalmente vistos na ilha mais ao norte do Japão, Hokkaido, mais que dobrou em 30 anos – chegando a 12 mil atualmente. A quantidade de ursos-negros asiáticos, encontrados na maior ilha japonesa, Honshu, também aumentou 1,4 vezes entre 2003 e 2018 – alcançando mais de 42 mil exemplares.

Isso tem tensionado a relação entre os mamíferos e as comunidades japonesas – com esforços governamentais oscilando entre conservação e abate seletivo ao longo dos anos.

Culturalmente, as tradições xintoístas e budistas enfatizam o respeito pela vida e pela natureza, valores profundamente enraizados no Japão; nas prefeituras de Nagano e Gifu, os ursos-negros são às vezes reverenciados como divindades das montanhas, escreveram pesquisadores em um artigo neste verão. Mas, ao mesmo tempo, os ursos representam um perigo real, podendo danificar propriedades e ferir humanos – causando uma "profunda tensão cultural", segundo os pesquisadores.

Essa tensão é evidente, com algumas pessoas protestando contra propostas de expansão do abate e da caça. O grupo de conservação Kumamori, que afirma ter 21 mil integrantes, tem pressionado o governo a buscar medidas não letais e recuperar habitats danificados para que os ursos possam retornar às montanhas. Outro grupo, a Sociedade de Pesquisa de Ursos de Hokkaido, tem se oposto veementemente ao abate de ursos, exceto para fins legítimos de caça.

Com a crise climática se agravando a cada ano, desorganizando ciclos e estações naturais, o Japão agora se prepara para futuros aumentos nos encontros entre humanos e ursos a cada outono e primavera.

"Há dois anos, o número de incidentes caiu drasticamente quando entramos em novembro", disse Suzuki no Instagram, referindo-se ao pico de 2023. "Estamos determinados a superar também o pico desta temporada de outono."

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