Livro sobre o multi-instrumentista se detém em sua relevância no meio musical no Brasil e, principalmente, no exterior
Porto Velho, RO - O livro Quebra Tudo! – A Arte Livre de Hermeto Pascoal (Editora Kuarup, 280 páginas), do jornalista Vitor Nuzzi, é uma reverência ao artista, prestes a completar 88 anos.
Pela habilidade e pela capacidade com que, de forma originalíssima, compõe e produz sons por meio de instrumentos convencionais ou não, o Bruxo, como foi apelidado, é um artista sem paralelo mundo afora.
Nascido albino em 1936 no povoado de Olho d’Água, no município de Lagoa da Canoa, no agreste alagoano, trabalhou em rádios de Pernambuco e da Paraíba como músico antes de ir para São Paulo, Rio de Janeiro e o exterior.
A biografia narra a passagem de Hermeto Pascoal pelas boates de música ao vivo no centro paulistano nos anos 1960, um marco para muitos artistas em começo de carreira. À época, já mostrava habilidade com gaita, pandeiro, sanfona (como seu pai), piano e flauta.
Foi no Quarteto Novo, que acompanhou artistas da época e era formado ainda por Airto Moreira (percussão e bateria), Heraldo do Monte (viola e guitarra) e Theo de Barros (baixo acústico e violão), que Pascoal começou a mostrar sua enorme capacidade musical.
Foi parar no final dos anos 1960 nos Estados Unidos, onde trabalhou com Airto Moreira e Flora Purim. Daí em diante ganhou notável reconhecimento lá fora, principalmente no mundo do jazz, de Miles Davis a Wilton Marsalis, por suas melodias, harmonias e ritmos.
No território norte-americano, inclusive, gravou seu primeiro disco solo. No Brasil, isso veio a acontecer em 1973, com o álbum Brasileiro. A biografia segue a trilha dos discos lançados, dos artistas com quem trabalhou e das grandes apresentações nacionais e internacionais.
Autodidata, utilizou instrumentos não convencionais – como latas e panelas – para produzir sons, como parte de seu aperfeiçoamento – talvez com a meta de avançar além dos objetos musicais de sons padronizados que já dominava.
Hermeto quis sempre ir além. Usou elementos como água e até um “coral” de porcos para extrair sons inimagináveis. O livro expõe as ideias do artista nas palavras de si próprio com relação à sua inventividade, embora nem sempre de fácil compreensão.
Entre as diversas declarações sobre sua música listadas no livro, há algumas palavras-chave que talvez sirvam para definir o som do Bruxo: liberdade, criatividade, busca, extemporaneidade e surpresa. Tudo isso, por óbvio, com um toque de talento incomum.
Os versos de Caetano Veloso na canção Podres Poderes são bem explicativos sobre o Bruxo: “Será que apenas os hermetismos pascoais/ os tons, os mil tons/ seus sons e seus dons geniais/ nos salvam, nos salvarão dessas trevas/ e nada mais”.
Quebra Tudo! – A Arte Livre de Hermeto Pascoal é um excelente ponto de partida para decifrar esse gênio brasileiro reconhecido internacionalmente.
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