Ferida com golpes de faca, Ana Célia Rosa avalia que o adolescente agressor é também uma 'vítima do sistema
Porto Velho, RO - A professora Ana Célia Rosa, 58, gravemente ferida pelo adolescente de 13 anos autor do ataque na escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, atribui a violência do episódio a um sentimento de "raiva do mundo" que o aluno nutria.
O ataque realizado na segunda (27) terminou com uma professora morta a facadas e cinco feridos. Para Ana Célia, o adolescente agressor é também uma vítima.
"Ele estava com raiva do mundo, não era de mim", disse a professora nesta quinta (30), após prestar depoimento no 34º DP (Vila Sônia), que investiga o caso. "Ele é só uma criança, ele é uma vítima do sistema", acrescentou.
Antes do crime, o adolescente deixou uma carta para a família na qual pede desculpas. No bilhete, endereçado à mãe, ao irmão, à tia e à avó, o jovem indica que bullying, tristeza e ódio o levaram a fazer "uma besteira".
Ana Célia dá aulas de história para duas turmas do 9º ano da escola Thomazia Montoro e não era professora do agressor, que cursa o 8º ano. Ela disse que não se sentiu um alvo preferencial e acredita que qualquer um que estivesse ali em seu lugar seria atacado.
"Acho que foi aleatório, mesmo. Quem ele pegasse, ele machucaria", disse.
A docente contou que, assustada com a correria de alunos durante o ataque e com a intenção de socorrer a colega caída no chão —a professora Elisabeth Tenreiro, 71, morreu esfaqueada—, não percebeu que o jovem usava uma máscara de caveira, nem que ele se aproximava para golpeá-la.
No chão e atingida na perna, ela viu quando a professora de educação física Cinthia Barbosa entrou na sala e imobilizou o agressor. "Eu só reconheci o rosto dele, o rostinho dele, na hora que a coordenadora tirou a máscara", contou.
Questionada sobre o que sente em relação ao garoto que a esfaqueou, a professora respondeu que sente "dó". Sobre o retorno às aulas, ela disse que pretende voltar a trabalhar no dia 10 de abril.
Ana Célia foi a última professora ferida a falar com a polícia. No total, cerca de 40 pessoas já foram ouvidas na investigação.
Por fim, a professora criticou a exibição de imagens do ataque. Segundo ela, a divulgação de cenas como essas podem motivar outros jovens a praticarem ataques e atos de violência, visão que é compartilhada por especialistas.
QUEBRA DE SIGILO
Nesta quinta, a Polícia Civil também deu início a uma nova frente de investigação após a autorização da Justiça para a quebra dos sigilos telemático e telefônico de aparelhos eletrônicos usados pelo agressor.
Os investigadores terão acesso aos dados do aparelho celular do adolescente e de um HD externo e do videogame Xbox apreendidos na casa da família. Eles apuram, por exemplo, se o jovem teve ajuda ou incentivo de colegas para cometer o crime.
Fonte: Folha de São Paulo
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