Governo Bolsonaro paralisou educação em direitos humanos, aponta ONG - Impacto Rondônia

Governo Bolsonaro paralisou educação em direitos humanos, aponta ONG


Entidade critica extinção de diretrizes e órgãos, como a coordenação responsável pelo ensino da área, vaga desde abril

Porto velho, RO - A educação em direitos humanos em universidades, escolas e órgãos públicos, empurrada de um ministério para outro e com trocas de liderança e cargos vagos, foi esvaziada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). É o que aponta um mapeamento inédito sobre a institucionalização do tema no Brasil, produzido pelo Instituto Aurora.

O estudo aponta que a mudança do tema na estrutura do governo, retirado do Ministério da Educação, fez o programa parar de vez. Composta por temas como consciência antirracista, combate às desigualdades de gênero e diversidades culturais, étnicas e sociais, a educação em direitos humanos é considerada importante para prevenir e enfrentar problemas na sala de aula, como o bullying, e a capacitar agentes de Estado, como os da Justiça e da segurança pública, para mitigar abusos.

O relatório destaca a extinção em 2019 da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) e do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, criado em 2003, e o abandono do Pacto Universitário para a Educação em Direitos Humanos, lançado em 2017.

Com as mudanças, o setor de educação em direitos humanos foi alocado no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, chefiado até março deste ano pela senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), aliada de Bolsonaro.

A troca foi um dos motivos de crítica para Michele Bravos, diretora-executiva do Instituto Aurora.

"Em outros tempos, a pasta de Educação em Direitos Humanos jamais poderia estar debaixo dos cuidados de pessoas com pronunciamentos homofóbicos ou sem conhecimento técnico sobre a área de Educação, como foi o que ocorreu", afirma. Para ela, o tema deve voltar ao MEC.

"Não podemos esquecer que este governo foi marcado pelo combate à chamada doutrinação, o que englobava também restrições ao ensino da igualdade racial, da igualdade de gênero e do respeito às diferenças de modo geral. Temas agrupados nos termos diversidade ou direitos humanos foram classificados como ‘de esquerda’ e imorais portanto, não deveriam fazer parte do ensino brasileiro", diz Bravos.

No ministério responsável por direitos humanos, a coordenação responsável especificamente por parcerias e ensino está vaga desde abril deste ano, quando a servidora que coordenava a área, Natammy Bonissoni, foi nomeada no Departamento de Promoção e Educação em Direitos Humanos.

A pesquisa do instituto sobre a situação da educação em direitos humanos baseou-se em um levantamento com as informações disponibilizadas pelo ministério e entrevistas com Bonissoni.

As respostas apontam que o governo Bolsonaro não pretendia retomar o comitê de educação em direitos humanos nem investir em novas parcerias, mas manter as ações desenvolvidas na gestão.

Aprovado em dezembro de 2021, o PNDEC-DH (Programa Nacional de Educação Continuada em Direitos Humanos) passou a valer em janeiro deste ano e funciona principalmente por meio de um site com curso de ensino a distância.

Perguntada pelos pesquisadores sobre o impacto das ações desenvolvidas, a área respondeu com indicadores de 745,4 mil matrículas feitas e 329,6 mil certificados emitidos até julho deste ano.

Procurada pela Folha para comentar os números mais recentes, o legado do ministério para o tema e informar se alguém havia sido nomeado para a coordenação vaga, a pasta não respondeu até a publicação desta reportagem.

Há quase 20 anos, a pesquisadora Aida Monteiro Silva, professora titular na Universidade Federal de Pernambuco, foi convidada por Nilmário Miranda (PT), à época secretário de Direitos Humanos no primeiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para assumir a coordenação do comitê, criado naquele ano.

A tarefa era elaborar o plano nacional para a educação de direitos humanos, que seria lançado em 2003.

Hoje uma das integrantes da área de direitos humanos da equipe de transição para o governo eleito, ela defende a recriação de órgãos como a Secadi e a atualização dos planos para o ensino de direitos humanos. Além disso, considera urgente que o novo governo revogue imediatamente programas bolsonaristas.

"O governo Bolsonaro chega e elimina os conselhos e leva a área de educação para o ministério [da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos], e foi pífio, não dialogou com a sociedade e com os movimentos sociais", diz.

Fonte: Folha de São Paulo


Governo Bolsonaro paralisou educação em direitos humanos, aponta ONG Governo Bolsonaro paralisou educação em direitos humanos, aponta ONG Reviewed by Da Redação on dezembro 09, 2022 Rating: 5

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